Se viesses, mulher
se fosses tu capaz de cruzar
a ponte que daí te parece muito
maior do que realmente é.
Se pudesses, mulher, perceber que és taça
em que muitos derramam-se, líquidos
e de quem muitos bebem, hávidos, sedentos
das infusões que só tu és capaz de conter.
Compreendesses tu que sou também eu
liquefeito e que estou o mais quente, a mais
escaldante de todas as poções que se te expõem
e de que experimentas. E sei, mulher
que isso te assusta, e toda essa
temperatura faz com que t{r}ema
o momento do t{r}oque o teu fino
cristal com que confeccionada tu foste,
mas que a ideia é mesmo
essa e depois dessa prímeira dor
teu calor e o meu hão de estabi-
lizar-se pois assim são as coisas
e eu sei - te questionas - por quê.
Pois eu digo-te que este o quentor que me
queima, o bafor que me sobra é
pra te derreter e fundirmo-nos-tórna-nos
um doutras águas, também doutras fontes,
cachoeiras e rios de fluidez inteiríssimamente nova:
obras-primas, segundas, terceiras e quintas
que essas quatro paredes vão testemunhar.
Alto lá!,
alto há, porque eu vi, nós subimos os dois
e disseste de coisas que eu não ousarei
repetir sob hipótese alguma, mulher, pois
são coisas que só à tua alma pertecem e há a-
té que tu não ma cedas, não há que fazer
senão dançar sensual e ritualisticamente
em torno do fogo da tua
existência sem par.
Por: Cândido Cordeiro