Pesquisar este blog

Lume

sexta-feira, 28 de maio de 2010

.Deus,


acaba com a pós-modernidade

porque a pós-modernidade está acabando comigo;

essa cria dúbia, dilacerante

sina de viver após a modernidade.



Deus:

porque de todas as palavras santificadas

que eu tenha ouvido, inventado

eis a que escolhi pra dar mais força

e significado.



Deus que é meu Pai

meu Irmão Amigo

Filho mais amado,

estende a tua mão a guiar-me o caminho

outrora perdido. O caminho

de caminhar com exatidão ainda

que seja no chão da mudança.



Deus que é Deusa

e se faz mulher que é

fecunda e se faz vaidosa

geniosa, p'rigosa -

nåo cries, Deus que é mãe do mundo,

ressentimento de nós, homossapiens

porque há pouca coisa no mundo que me afaste

como uma Mulher ressentida. Suplico

que tenhas, em vez, a ternura

e a misericórdia

que tiveste no coração de Maria, Tua mãe

ao ver-Te Jesus, crucifixo.



E é por Te amar assim e amar

o que há de Ti em mim em nós

em tudo que há, é que eu, que prossigo

a fitar-Te o semblante magnífico

como se fitasse a mim mesmo no espelho,

Te peço em canto,

que acabes co'a pós-

Modernidade.

Essa mulher torpe do diacho maligno

deflorando da criança o corpo

num demônio em flor.



Devolve-nos, Ó Deus de deuses

e titãs e orixás e de mães e de pais

de profetas

e magos e reis

Ó Deus tão maior que a imensa solidão

lucidez dos Poetas

Cura-nos, Deus

Pajé

Sara-nos essa escabrosa ferida

antes que a fera da treva Nos envolva em silêncio.



Eu respeito, meu Deus, o silêncio magnânimo

de que só a Tua voz é capaz, Deus bonito,

mas insisto em cantar,

e é num canto oração

que barganho a canção de mais dez novas eras

de mais brilho mais luz

para que aqui se possa

cantar em louvor

ao Amor que só Nós conhecemos.



Por isso, ao dedo de Deus

que se faz no topo

da espiral do tempo

eu imploro que interceda e socorra

e que ajude a subjugar essa dúvida escura

essa empáfica descrença em Ti em Nós em Tudo

que se alastra e nos come e vomita perdidos

no abismo da falta de Significado e nos embebe

na tamanha escuridão onde a Luz é uma ofensa, uma mágoa:

maculada cegueira dos que olharam demais

e não viram florir Teu Amor, Ó meu Deus.



E eu canto, ajoelho-me e espero

a esperança brotar no meu ventre

e no seu e no vosso e que a Måe da bonança,

que é a Terra e o Vento e é o Fogo

que é o Ventre mais morno, o conforto das águas

mais calmas. E que é água e que é água e que é água

o Teu universo único de liquescências.



E eu espero o findar da pós-modernidade

e em verdade encontrar-me pra nós o realismo

mais sóbrio e abrupto de ser-se um romântico

e cantar-se o cantar-Nos

e o nosso negócio há de ser Te cantar

e louvar e adorar e permitir que cantes

também Tu, Ó meu Deus

em uníssono.



E dancemos, meu Deus uma valsa infinita e transcendental

numa eterna celebração do dia fatal em que fizemos as pazes

e acabamos com a pós-modernidade

em prol da unidade.

Festejemos conosco, nosso Deus de regalos e mimos

os diágolos íntimos e as verdades mais sábias do Teu

Reino de Amor.



Me ajuda, meu Deus a ajudar minha raça

a sair do poço trevoso e lamacento da pós-modernidade

e a sermo-nos ora aquela luminosa clareira pacífica

que antevi na utopia do canto.



Acaba, pelo Teu pelo Nosso Amor de meu Deus

com a pós-modernidade

porque a pós-modernidade está acabando comigo; conosco.

terça-feira, 4 de maio de 2010

para Bianca

olha
meus dedos, que
a ti tocaram-te
e à mornidão e à áspera
pequenez
-vês?não remontam meus
dedos. Meus pulsos mãos
os quais retiveram carinhosamente o suave silêncio
de ti(e teu corpo
sorriso olhos pés mãos)
são diferentes
do que foram outrora. Meus braços
em que tudo de ti se dobra
quieto,como uma
folha ou'ma flor
nova feita pela Primavera
Ela própria, não são mais meus
braços. Eu não mais reconheço
como eu mesmo este que acho ante a
mim num espelho. eu
não creio
que eu jamais tenha visto algo assim;
alguém a quem tu amas
que é bem mais esguio
mais alto que
eu adentrou-se e tornou-se tais
lábios com quais eu falava,
uma nova pessoa está viva e
faz gesto com os meus
ou talvez sejas tu quem
com a minha voz
estás
jogando.
Poema por E.E. Cummings
tradução por Conrado Segal

Ora eu deito(com tudo o que há em volta)

Ora eu deito(com tudo o que há em volta)
-me(o grande mudo som profundo
da chuva;e do sempre e do nada)e

que mais gentilmente acolhedora escurissimidão-

ora eu deito-me(num muitíssimo agudo
mais que música)sentindo que a luz solar é
(vida e dia são)tão somente empréstimo:enquanto
que noite é-nos dada(noite e morte e a chuva

são dadas;e dada nos é quão belamente neve)

agora eu deito-me para sonhar(nada
que eu ou quem queira ou você
possa começar a começar a imaginar)

algo que ninguém pode manter.
ora eu deito-me para sonhar Primavera.

Now i lay(with everywhere around).. por E. E. Cummings
tradução estilística por Conrado Segal

http://famouspoetsandpoems.com/poets/e__e__cummings/poems/14339