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Lume

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

agradeço a Você Deus pelo mais este magnífico
dia: pelos verdemente serelepes espíritos d'árvores
e um veraz azulado sonho de céu;e por tudo aquilo
que é natural que é infinito que é sim

(eu quem morri hoje vivo outra vez,
e este é o dia em que o sol dá-se à luz; é o dia 
em que nascem vida e amor e asas:e a qual grande
e feliz acontecendo limitavelmente terra)

como faria um sapiente tocante ouvinte vidente
respirante qualquer - elevado do não
que vem de todo o nada - ser meramente humano
duvidar O inimaginável Você?

(ora os ouvidos dos meus ouvidos despertam e
agora os olhos dos meus olhos se abrem)

poema por: E.E. Cummings   http://famouspoetsandpoems.com/poets/e__e__cummings/poems/14210.html
tradução: Conrado Segal

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Morada de Altares (música)

Se tu me quiseres saber com certeza
deves despir-te, deves calar

Se queres de mim conhecer fortaleza
deves abrir-te, deves cantar

Meu corpo é, ainda que frágil,
morada de altares, lugares tão meus!,
e onde quer que a beleza tocar
estarei também eu

Eu tenho o sorriso, um escudo sincero
e sua dureza é impenetrável

Eu tenho uma flecha certeira
austera qual inabalável poesia
de pele suave, macia: a voz


Meu corpo é, ainda que frágil,
morada de altares, lugares tão meus!,
e onde quer que a beleza tocar
estarei também eu

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Diventarci

Ávidos abutres fúnebres marchantes cismam
crimes, cenas, penas folhas sem renascerão
Dançam como num desritmo envolvente
serpenteiam dos nossos dizeres
parece que num desafim sem fim.

Tentam, brotam muitos dos sentires costumeiramente
rompem nossos signos, desenhos desígnios
turvando muito bem os verdadeiros pontos.

Por que será que insistem nessa coisa
tão dorida e tão chorosa
que me faz os olhos não se resistirem
derramar ao verso Benedita Lacrima?

A língua portuguesa
não possui asneira imunda
o suficiente para designar
os cúmulos que vós nos impugnais!

O miráculo da vida existe extenso
no detalhe mais contorno, à mornidão
no acônchego de se fitar o afeto no olhar amigo.

Não há poder nem honra.
Não há o azar e a sombra
não deve ser levada em conta.

Os ombros - equidão sinceramente expressa,
a festa e a floresta em santa comunhão - resposta.
A nossa névoa vai se esvoaçar num hino
quando reverberar a voz do Grande Signo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Se Atado ao Peso (letra)

Eu-movimento
fazendo o momento
trazendo-te dentro, mordendo
o desejo e a boca

Tu: corpo estranho
no outro o tamanho
Espessura medida
à largura de um beijo
e a força

bruta dos músculos todos
o gozo dos pontos minúsculos
prontos para entenrecer.

Eu me arrebento
entre a Luz e o cimento
no centro; 'que tempo não fora
as amarras de outrora

Tu que ao lá fora
despertas leveza
não vês já não ser temporal
tempestade não chora

Molha teus lábios nos meus
e aprende a dançar...

Embora vento castanho
soprando tacanho
no templo do agora de nó
lá da abóbada céu (4x)

Darundê...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

yes is a pleasant country

sim é um campo que agrada
se é invernada
(minha amada)
abramos o ano

ambos é a temporada
(não cada)
meu tesouro,
quando violetas se mostram

amor é mais funda estação
que razão;
minha doce
(e abril é onde somos)

Texto por: Edward Estlin Cummings
tradução: Conrado Segal

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

when faces called flowers float out of the ground

quando faces chamadas flores flutuarem do chão
e respirar for querer e querer for ter-
mas manter é pra baixo e é dúvida e nunca
-é abril!(sim,abril;meu bem) primavera!
sim,  pássaros brincam tão vivos quanto podem voar
sim o peixinho brinca tão alegre quanto pode ser
(sim as montanhas dancelebram juntas)

quando cada folha se abrir sem ruído
e querer for se ter e se ter for se dar-
mas reter é pontuar e é negar e é absurdo
-vivos;somos vivos,querida:é(beija-me agora)primavera!
agora os passarinhos pervoam como ela e como ele
agora o peixinho tirita para como tu e como eu
(agora as montanhas dançando,as montanhas)

quando mais do que foi perdido é achado é achado
e ter for se dar e se dar for viver viver-
mas conter é escuro e é inverno e definha
-é primavera(toda nossa noite vira dia)oh,é já primavera!
todos os passarinhos mergulham no âmago do céu
todos os peixinhos sobem pela mente do mar
(todas as montanhas dançando;dançando)

original: E. E. Cummings
tradução: Conrado "Fingertips" Segal


http://www.ftrain.com/poems_cummings_flowers_float.html

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Qual terá sido o tempo?

O mundo anda mesmo cheio de cores,
cores muitas, sutis coléricas cores.

O mundo anda ostentando
uma complexidade mesmo fora
da minha total compreensão ou consenso.

Andando as calçadas pixadas da vida
eu ando à procura da cor dos olhos
de avenidas, outdoores e anúncios
de cores soberbas supostos colírios
cantando em falsete.

Nesta aquarela moderna as cores
transitam-se violentamente
sem nem degradê, e os frâmes
são como porradas nos olhos.

Altares de Sórum se ergueram nos nossos
pomares de sonhos. O silício do tempo e o cansaço
bateram nos ombros da outrora sã vida.

Qual tempo terá sido esse em que o Medo tomava o poder?
Qual vento maligno seria esse que destronaria o Amor do seu Reino?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Pele do Universo

A pele do Universo
 - com a qual nossa consciência nos põe em contato -
transpira signos; deuses.

É mister alfabetizar-se em sua linguagem pluralística...
É preciso traduzir a tez do divino à linguagem mundana...

Os olhos do Mundo
não apenas enxergam as cores e as coisas.
Deliberadamente aos objetos - opacos ou luminosos -
a consciência do Mundo à própria luz 
ao ver-se altivamente lhes deduz dizeres,
ao verde expõe-se às plumas,  seduzindo-se ímãs
ao ser-se, se traduz em brilho,                                                          altezas
                                                                         texto-tato, faro,
conduz-se a ir-se em sinestésicos sabores, 
e produz indizíveis muitas outras cores: versos.

Eu aprendiz,
concentro-me naquilo que, 
penso que me diga o Cosmo e escuto 
e vejo se condiz co'aquilo que Ele mesmo 
quer Sim pronunciar quando é minha voz.

Feliz, muito felizmente
o Seu discurso é sempre coerente
a quem faça atenção presente. Há quem O tente.

(!)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Quatro Amores

O espaço, e ainda mais, a imantada matéria
dos clímaxes sonoros, lúdicos, luminecentes,
num salto - fogo - celebrar-se-ão mais vidas;
produzirão reflexo, espelho, d'alma, ventre.

Depois ao tempo encontrarão; às duras horas,
serão mais níveis de percepção: limite, cura...
Em riste hei sempre preso entre um porvir momento
e um indo, ido, feito, fato: perconcluso o sempre agora.

Questões aéreas surgem repentinamente;
creio que do conflito dos porquês, das crises.
Explicam-se, replicam-se, desmentem-se e repetem-se.
O ar que à terra aos poucos faz leve poeira, 
que ao fogo excita-se ou consome-se conforme queira.

E a água vem lavando tudo, remixando
fluidificando máculas, dissolve, envolve e chove.
Sem água, tudo seria metal e névoas, 
quem sabe rocha aqui, pedra de lá;
sem água não seria possível Pétalas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Segredo de Vívian


sim, pois bem, e os impropérios ditos
simples que os morrendos metem na dulcilidade
de inocentes bem-serventes límpidas palavras
e fazem furacões de caos em torno do viver

é simples, eu repito, o segredo de Vívian
talvez tão simples que o negueis, primeiro, ao vê-lo
não credes pois que haveis atônitos ao diante
de uma supostamente atraente complexidade

há dois - sabemos - seres a se contemplar
o ir-e-vir redondo dos nossos nasceres
e não há mais morreres porque tal fenômeno
se dá nascendo noutro plano, oitava, andar

deveis olhar profundo nos temores-chave
devei-lhes encarar soberbamente as fuças
e adentro mais ainda até que se embaracem
e assumam que tão bem maior temer-vos-iam

ceder jamais devemos a treva nenhuma
tenhais passado fome, sede, frio ou vício
tenhais gritado um nome mau, tenhais descrido
sabei, por bem, que luz jamais há de faltar

mergulha, dócil, na  tua palavr-a-mór
desnuda o cógito nesta uma nova em folhaflor
não olhes Luz diretamente, olhar em vez
na mesma direção a que ela aponta, vês?
deixá-la guiar-te a vista e não cegueis tu'alma

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Lógica Poética Dele

Deixe-me, em poucas palavras, colocar
que Deus (escolho essa palavra justamente
por sua polemicidade) existe.

Com uma boa dosagem 
de lingueslasticidade
lá se chega.

Conciliarei, conciso, em forma 
de poesia (a forma
de texto mais eloquentista
que o Homem jamais conseguiu
produzir)
Ciência (dentro dos conceitos
mais limitadíssimos
que o popular de nossa 
época repõem)
e (não direi Religião
porque a própria ciência
moderna cabe dentro
de sua definição)
Ele.


Tomem por verdade
(pelo silogismo do meu verso)
que Tudo, no começo das contas
é composto da mesmissississima coisa... -
tenhamos por variáveis 
da equação poética
algo como Nêutrons Prótons e Elétrons (falando assim num dialeto mais universal) - 
e, ora, se tudo é o Mesmo,
esse tudo se comportam mais ou menos
dentro de um padrão.
Portanto pode-se tomar qualquer coisíssima
de exemplo.

Tomemos, pois
a Nós, então, por julgar que nos conhecemos
ou nos devemos conhecer:

Dum padrão, então
muito garranchadamente delineado
poder-se-ia alegar que Tudo nasce,
reproduz-se, e morre (Brahma Vishnu Shiva).
Né?

E então digamos que nós cremos
que temos uma tal suposta consciência -
a qual é muito erroneamente confundida amiúde
com a nossa superacelerada capacidade
de cognicão.
(ao sustentar tal ideia, falaciosos
afirmam muito idiotamente que, tipo,
animais não têm consciência, sendo que
do pressuposto di vino, até mesmo a pedra a tem.

Se nós, que nos dizemos evolucionistas e tal
racionalistas, sei lá (ignorando a possibilidade 
da ainda extrema limitacionalidade da nossa amada raz(n)ão)
dispomos dessa qual consciência, seria, não acham?,
 demasiada presunção
(maior do que a que eu tenha ao cá redigir essas letras)
negar que a nossa vontadeconsciente seja fruto de umoutra.
E achar que somos bizarramente os primeiros
mesmo  tão pequeninos sejamos.

Há algo maior que a minha testa e o meu corpo. E há algo que os atravessa. Uma ideia.
e Há.

Desculpem-me qualquer ofensa mas:
Burrice a deles! Muita empáfia e descrença de alguns...


Quem tiver ouvidos, ouça!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Omni Ser Uno Síssimo

para E.E. Cummings, Isadora M. e todos nós


umas parvas parcas falhas outras
várias malhas caras caem livres
mais declives criam mais gritantes
formas de embriões, embebem cores mais sutis

plácidos valquímeros calcantes pesam
vibram, arre, pendem dum cabresto externo
canticíssimos se rendem a querer e a suspeitar
nas quinas todas químicas que me se tornariam, ora
ela na cena das calmárias queimantões amores

vértices de muitos véus se encristam
desêjosos de tato e virtude ao ponto 
chave da partida do constante ziguezague
dos curvículos reticentinos alpinistas

do criar-te-nos um istmo dentre quais sombras
sobras distorcidas coloradas idas fotodescendentes
piscam dum calar num carcarejo vivical
polivativamente e tal, cantante (por que não?)

seguintemente os primos, prímeiros palquistas
consequentemente sincompõem meiguices
inarticuláveis tons coreografadamente líquidos
milagres, com se tudo embrenhar-se-ão por vezes
na inverdade mista de verdades câmbias e cambotas


bem, sabemos, mas não bem exatamente
quantas certamente se fariam possibilidades
se um se prestasse a lançar-se a fazer
muito bem daquilo que se quisesse e contemplasse

a magnitude cálida e dançante
dos quês inúmeríssimos que advêm
do Omni Ser Uno Síssimo
Lúcia de Glória e Conceição Sofia. 

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Vingança da Chuva


Eu não tô aqui pra lhe dizer de ninguém
eu só quero ter
como este rio me tem ou como o tenho eu
quando eu lhe mergulho a pele
e lhe dou nova forma.

E eu só tô aqui pra dizer 'sim'
como este rio me diz
quando me acaricia a pele
e me permite nadar em suas águas mais mornas

E eu que fluído vou
crente naquilo que este rio me disse
que o destino que me cabe é de chorar
e de chover sobre os telhados de casas-senhoras
e de regá-los

E a trova trovão
que o meu coração retumbante pensou
no punho do Não
e o sopro de fogo a fazer-me vapor
quis esclarecer
eu quis mediador, conselheiro e ladrão
me contradizer

Espere tão logo
eu me descondensar e cair
na voz tempestuosa da chuva
que molha sua flor
e todas as outras flores que por ventura eu vir
vão banhar-se de mim.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Varredura

As notas da canção malogram, sujam
o silêncio, bem como as muitas cores
dum'aquarela à tela - branca, alva,
inocente, parva - sujam, contaminam:
com-paixão.

Ântropos pintam suas cores
num mundo desvirgem e dão
continuidade a um trabalho
do qual eles mesmos produto são.

O bicho maestro
rege uma sinfonia
de urbes e de orbes
e de urlos e oboés
muito enquanto polui
seu planeta e a si.

Eu, ora, também me sinto sujando
folha em branco co'a tinta negrume
da caligrafia que quiçá seja ininteligível
m e s m o a m i m.

e ora eu sinto algum
incontrolável impulso
de sujar-me de alguém talvez tu

(esporquemo-nos, pois)

E então eu me sinto
voraz pacientemente
tentado a pensar
que tudo é, sim, assim
mesmo, e talvez que se suje
tanto quanto se limpe
e que não há nem há
de haver ordem que não

d e s a t e

deorsaginze
ou
d e

s c o n s
trua

a não ser
o i m u t á v e l
constante ir e vir

do Ele Sim.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

o Poeta é, assim como Deus, sem gênero,
embora a lusofonia,
o código do qual lanço mão,
tenha-lhes querido impor um.


ora, hão de me indagar
se este Deus unífico

magnífico


sendo inesgotavelmente
fecundo como é
não teria, todavia
um sexo.

eu respondo:
simnão.

sim,
porque Êle os contém
(só Êste Deus
Meta
Prolífico
Físico
é verdadeiramente capaz de algo conter)

e não
pois o sexo, juntamente com o resto
de todas as outras coisas-estado
sem exceção,


é que emprestam de Deus a divindade do Ser,

transformando-se, por sua vez
nos mais diversos
fenômenos mágicos, belos
do Si Universo contenedor de universos

de onde desabrocham versos
como galaxiflores em suspiro.

o Poeta sim,
pode,
eventualmente,
ter sexo.

(alguém por aí já reparou que o Não
sempre carece mais de argumento
e de rebusque do que o sim?

a treva se pensa maior do que a Luz
porque a tudo acolhe, ingnorante
de que na Luz se vai onde a treva
não pode enxergar

aliás,
a treva nada enxerga
além da própria
autófaga escuridão)

Pois bem, e o Tempo
- a medida dessa nossa vitrual
couraça de carne mortal,
um dos algozes de Deus -
precoce, doce, manso
não escraviza o Poeta
porque o Poeta se sabe
ter emprestado o indelével
espírito Seu cosmonírico
e também sabe ter-se
deitado consigo,
no incesto do Atempo,
a Poesia

- essa dama mutante
em beleza
essa musa que posa
de brincos
no desabrochar
de cada momento:
essa sim
possui, para mim,
género.

não, reitero,
o Tempo não
escraviza o Poeta

porque Tempo e Poeta
se ombreiam numa batalha epopeica
ainda sem vencedor

entretudo, o poeta compreende
que a história
o passado o futuro e o presente
se escondem, misturam
componentes
do Agora que dança.

por sempre criança
recém-nascido
de si mesmo
como Êle
como o Poema

e ambos, Poeta e Tempo
se curvam diante de Deus
que, autogâmico, recria-Se
perenemente em cada dobradiça
onde o Espaço e o Tempo
dão-se as mãos
e se curvam numa cordial respeitosa
reverência ao Poesíata:
nosso mais gentilíssimo concebedor;
de cuj'alma nós somos apenas partícula.

O poeta, então, se ergue de pé diante Dele

e Este

lhe sorri

com os Olhos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

sou uma igrejinha(não grande catedral)

distante do esplendor e da sordidez das cidades corridas

- eu não me preocupo se dias mais breves tornam-se os mais breves,

eu não me lamento quando sol e chuva compõem abril


minha vida é a vida da colheita e da semeadura;

as minhas preces são as preces dos desgraciosamente esforçados filhos

(achando e perdendo e sorrindo e chorando)da terra

de quem qualquer desventura ou gozo é meu próprio descontentamento ou sorriso


à minha volta surge um milagre de incessantes

nasceres e glórias e mortes e ressurreições:

sobre meu eu que dorme há flutuantes símbolos que flamejam

de esperança,e eu desperto para uma perfeita paciência de montanhas


sou uma igrejinha(distante do mundo

frenético com seus deleites e angústias)em paz com natureza

- eu não me preocupo se noites mais longas serão as mais longas;

eu não me lamento quando o silêncio se faz canção


inverno por primavera, eu levanto minha torre diminuta ao

misericordioso Ele Cujo único agora é o sempre:

eis-me ereto à livre de morte verdade de Sua presença

(dando as boas vindas humilde, à Sua luz e orgulhoso, à sua escuridão)



texto por: E. E. Cummings

tradução: Conrado Segal

sexta-feira, 28 de maio de 2010

.Deus,


acaba com a pós-modernidade

porque a pós-modernidade está acabando comigo;

essa cria dúbia, dilacerante

sina de viver após a modernidade.



Deus:

porque de todas as palavras santificadas

que eu tenha ouvido, inventado

eis a que escolhi pra dar mais força

e significado.



Deus que é meu Pai

meu Irmão Amigo

Filho mais amado,

estende a tua mão a guiar-me o caminho

outrora perdido. O caminho

de caminhar com exatidão ainda

que seja no chão da mudança.



Deus que é Deusa

e se faz mulher que é

fecunda e se faz vaidosa

geniosa, p'rigosa -

nåo cries, Deus que é mãe do mundo,

ressentimento de nós, homossapiens

porque há pouca coisa no mundo que me afaste

como uma Mulher ressentida. Suplico

que tenhas, em vez, a ternura

e a misericórdia

que tiveste no coração de Maria, Tua mãe

ao ver-Te Jesus, crucifixo.



E é por Te amar assim e amar

o que há de Ti em mim em nós

em tudo que há, é que eu, que prossigo

a fitar-Te o semblante magnífico

como se fitasse a mim mesmo no espelho,

Te peço em canto,

que acabes co'a pós-

Modernidade.

Essa mulher torpe do diacho maligno

deflorando da criança o corpo

num demônio em flor.



Devolve-nos, Ó Deus de deuses

e titãs e orixás e de mães e de pais

de profetas

e magos e reis

Ó Deus tão maior que a imensa solidão

lucidez dos Poetas

Cura-nos, Deus

Pajé

Sara-nos essa escabrosa ferida

antes que a fera da treva Nos envolva em silêncio.



Eu respeito, meu Deus, o silêncio magnânimo

de que só a Tua voz é capaz, Deus bonito,

mas insisto em cantar,

e é num canto oração

que barganho a canção de mais dez novas eras

de mais brilho mais luz

para que aqui se possa

cantar em louvor

ao Amor que só Nós conhecemos.



Por isso, ao dedo de Deus

que se faz no topo

da espiral do tempo

eu imploro que interceda e socorra

e que ajude a subjugar essa dúvida escura

essa empáfica descrença em Ti em Nós em Tudo

que se alastra e nos come e vomita perdidos

no abismo da falta de Significado e nos embebe

na tamanha escuridão onde a Luz é uma ofensa, uma mágoa:

maculada cegueira dos que olharam demais

e não viram florir Teu Amor, Ó meu Deus.



E eu canto, ajoelho-me e espero

a esperança brotar no meu ventre

e no seu e no vosso e que a Måe da bonança,

que é a Terra e o Vento e é o Fogo

que é o Ventre mais morno, o conforto das águas

mais calmas. E que é água e que é água e que é água

o Teu universo único de liquescências.



E eu espero o findar da pós-modernidade

e em verdade encontrar-me pra nós o realismo

mais sóbrio e abrupto de ser-se um romântico

e cantar-se o cantar-Nos

e o nosso negócio há de ser Te cantar

e louvar e adorar e permitir que cantes

também Tu, Ó meu Deus

em uníssono.



E dancemos, meu Deus uma valsa infinita e transcendental

numa eterna celebração do dia fatal em que fizemos as pazes

e acabamos com a pós-modernidade

em prol da unidade.

Festejemos conosco, nosso Deus de regalos e mimos

os diágolos íntimos e as verdades mais sábias do Teu

Reino de Amor.



Me ajuda, meu Deus a ajudar minha raça

a sair do poço trevoso e lamacento da pós-modernidade

e a sermo-nos ora aquela luminosa clareira pacífica

que antevi na utopia do canto.



Acaba, pelo Teu pelo Nosso Amor de meu Deus

com a pós-modernidade

porque a pós-modernidade está acabando comigo; conosco.

terça-feira, 4 de maio de 2010

para Bianca

olha
meus dedos, que
a ti tocaram-te
e à mornidão e à áspera
pequenez
-vês?não remontam meus
dedos. Meus pulsos mãos
os quais retiveram carinhosamente o suave silêncio
de ti(e teu corpo
sorriso olhos pés mãos)
são diferentes
do que foram outrora. Meus braços
em que tudo de ti se dobra
quieto,como uma
folha ou'ma flor
nova feita pela Primavera
Ela própria, não são mais meus
braços. Eu não mais reconheço
como eu mesmo este que acho ante a
mim num espelho. eu
não creio
que eu jamais tenha visto algo assim;
alguém a quem tu amas
que é bem mais esguio
mais alto que
eu adentrou-se e tornou-se tais
lábios com quais eu falava,
uma nova pessoa está viva e
faz gesto com os meus
ou talvez sejas tu quem
com a minha voz
estás
jogando.
Poema por E.E. Cummings
tradução por Conrado Segal

Ora eu deito(com tudo o que há em volta)

Ora eu deito(com tudo o que há em volta)
-me(o grande mudo som profundo
da chuva;e do sempre e do nada)e

que mais gentilmente acolhedora escurissimidão-

ora eu deito-me(num muitíssimo agudo
mais que música)sentindo que a luz solar é
(vida e dia são)tão somente empréstimo:enquanto
que noite é-nos dada(noite e morte e a chuva

são dadas;e dada nos é quão belamente neve)

agora eu deito-me para sonhar(nada
que eu ou quem queira ou você
possa começar a começar a imaginar)

algo que ninguém pode manter.
ora eu deito-me para sonhar Primavera.

Now i lay(with everywhere around).. por E. E. Cummings
tradução estilística por Conrado Segal

http://famouspoetsandpoems.com/poets/e__e__cummings/poems/14339

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sustentabilidade

O Poeta partira então pequenino
numa metaviagem

Numa jornada já não sem saudade
em busca de preciosidades

Consigo levava só diário de bordo
e de pura linguagem

"Cru e nu como vim ao mundo", pensou
"Sem mais apetrechos ou vestes fantasmas",
caminhou com calma

Destino: algo incerto - nada muito perto
estrata tortuosa

Para por fim tecer-se um véu de lindezas
em poesia lustrosa

De um seu espírito colecionador
se valeu muito embora

quisesse apenas coletar as pequenas
miudezas da vida

Dos sítios d'alma dentre os quais visitou
trouxe algumas palavras

Palavras que, frágeis de um quebracabeça,
são carícia e navalha

A alma fecunda do poeta fora
- pra além de Sodoma, depois de Gomorra
transpondo o muro das Verdades e o abismo dos Esquecimentos
onde os germes ruminam e a gênese abunda -

buscar solo fértil
e semear-se.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

The Moment in Movement (O Momento em Movimento)

Hey Fingers... That poem about space-time you sent me which I liked very much and which I posted months ago, I yesterday translated it to English and thought: wow, that's something.
So there it goes:

The Moment in Movement
The hence passway counter-time
is configured up to eternity

All Iime is anti-time
They corroborate and selfnullify
for Time in extension
does not pass.

Space unfolds
selfreprojectingly through
the dimension of time
in order to apprehend itself
within a new second
Thus for equity
be consecrated eternal.
(and existing becomes
some sort of velocity)

That: may be called dance, interaction

and all the rest refers to its gravity.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Infinito Recipiente

Há inúmeras
janelas certas, diretas
por través das quais se contemplar
e conceber-se infinitos.

Estai atentos, tende olhos,
focai!, não tenhais medo ou receio
daquilo que os covardes
temem e
tendem a
chamar loucura ao negarem
o Gênio.

E cuidado a não terdes
a impressão que a entrega
se dá à exaustão da subida. Do contrário:
é, na verdade, uma confortante
e deleitosa (sem para)queda(s).

Sabereis vos dar a ela?
Tereis no peito a bravura, ao acharde-la,
de vos lançardes da janela,
de cujo parapeito admirais,
atônitos, rumo ao glorioso,
imponente infinito recipiente?

terça-feira, 30 de março de 2010

Réquiem precipitado à suposta morte da Poesia

Houve quem disse que a Poesia morreu.
Ao ouvi-lo, recuso-me terminantemente
a aceitar o fato. Rejeito, edipiano,
a ideia de cortar o cordão
umbilical.

Se me mostram o corpo,
serei como a amante mais desconsolada
ou como criança cujo pai
caiu sem vida.
Chorarei, espernearei,
lamentarei um luto infindável.
Velar-lhe-ei a necrose
num pranto de sete eras
e declararei guerra a Deus.

Eu o farei.

Ainda que a Poesia
tivesse sido puta barata,
que se vendesse a pouco
ou a quase que nada.
Mesmo que tivesse sido
uma virgem frágil, facilmente corrutível,
que se umedece ao primeiro toque da mão
e diz que não
que quer que não que quer.

E mesmo sendo o Poeta um mendigo,
um amigo pidão.

Neste mundo de sombras,
e tantas glórias silenciosas,
o Poeta implora
a esmola de dois minutos sinceros
da tua atenção.