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Lume

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

e fértil te faz tão feliz de novo

Tu és a coisa, és o mistério todo
ardendo em cânticos e carnavais.
Tu és a lousa, a arte final, o esboço
o traço que eu quis traduzir, por mais

que eu não pudesse ainda ali chegar.
Se, nesse divagar meu, encontrasse,
depressa ou devagar, um devaneio
que em meio a meus quebrantos me dissesse

por que te estou tão rente o tempo todo...,
por que te quero, quente, frio ou morno,
ser tudo, tudo o que te cerca, o seio

tão vivo que te abunda, em que te espero
e a ti fecunda máximo e genérico
e fértil te faz tão feliz de novo.

                                                   (D. Cândido Cordeiro)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

e volta logo para me buscar

Tudo o que tocas, tudo o que compreendes
é nada mais que o trópico carnal
de cada imensidão, cada cadente
um vértice dos seres deste almal.

Um lamaçal que é baço, tosco e fraco,
um braço bruto, ingrato e restringente
que à gente só confunde e faz estrago;
embargo temporâneo, vil, doente.

O Fogo brota, aquece, queima e mata.
A Água afoga, mas mantém-te vivo
e veste a Terra com viva camada.

Que voe ventania minha, vá
dizer à Mãe tudo isto que lhe digo
e volte logo para me buscar.

                                                             (Lúcio Veríssimo)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

almada e muscular por que te fazes.

Me agrada quando comes,
fico feliz em me saber 
que te manténs o corpo vivo.




Eu gosto muito quando dormes,
          pois compreendo 
como deve ser
     tão desgastante
                ser

                  em ti, assim, tão bela e forte
           todo o tempo e mesmo
     após todas as mortes
restas num sorrir conciso,

e também isso a mim
                                       me agrada muito.




Eu amo quando falas,
e quando falas      tu,
eu vejo que da boca
saem fadas serelepes
    e    sinceras
         -    das mais belas!




e eu vibro quando  


                                 calas,


e mesmo que me sofra
o      coração      em brasa sempre
à espera de palavra tua
não
         me resta alternativa 
              a não
    ser pura

e simplesmente amar o teu silêncio.

Porque ele é teu
como tuas mãos 
          e      teus momentos, teus.

Por isso os amo, que são teus.

Por isso também és
   tu a mais bela porque és
          tu, e só porque és.

E só porque és,
eis-me a teus
                pequeninos

                                l
                                 
                                   i
             
                                 n

                                dos  pés

      a idolatrar-te como
 a divindade 
      almada e muscular
                   por que te fazes.
                                       (Dom Cândido Cordeiro)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Soneto do amar-te muito.

Amo-te imenso, amo-te intenso, te amo.
Amo-te em corpo violento, enorme,
amo-te em grandes estruturas fortes,
de um jeito parvo, genial, insano.

Sou todo amor e dele todos tenho,
sendo-te escravo, amante, irmão, amigo,
sendo contigo um rei dolente e reto,
guardo-te afeto, fome, pulso, espírito.

Tu és meu grito, meu maior silêncio.
És no que penso e se te penso, sou.
Amo-te, eu sei, e essa é minha sorte.

Só de te ver, amada, a alma escorre
em rios, quedas d'água multicor
e meu amar-te muito é minha morte.


                                                                             (Cândido Cordeiro)

domingo, 30 de outubro de 2011

O Pó de Ser e a Possibilidade

Emoriô é o elo.
O belo
que te encontra no que te proporciona
o ser (que é 
a soma de todos os verbos).

Que coma, canibal,
antropofágico vital espécime,
o vértice carnal 
dos seus Exus:

não queres tu
expor a cor, o sal, o som e tal?

Emoriô pode ser a emoção. 
A sensação do sem igual.
O foco in loco exposto
num rosto vasto e animal.

Emoriô conforta -
aborta a nossa frota
de medumes e anedotas
mortas e os transforma
em outras obras - muito, muito mais.

É com o que sonhas?
Não é o que sois?

Mostra-nos, pois,
amálgamas e fadas
volantes e risonhas
a sobrevoar os almais.





                                                                   (Lúcio Veríssimo)

sábado, 15 de outubro de 2011

Soneto para Permitir

Permite, amor, que chegue a ti melhor
ternura que talvez te tenham dado
estados de torpor, calor, orgasmos
espasmos, calmos fogos e sabor.

Sabendo tu de mim. eu sei que chegas;
Contendo tudo, um sim a mim não negas...
por dentro arde, eu vi que tinhas algo
ali que reluziu - e eu mesmo galgo

esferas novas para tu brincares,
altares lânguidos para as deidades
e inéditos acordes doces, fortes.

Três nortes te farei pra que tu escolhas
e bolhas e cristais pra que componhas
amores por que tu vives e morres. 

                                                                          Cândido Cordeiro

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Compreendesses

Se viesses, mulher
se fosses tu capaz de cruzar
a ponte que daí te parece muito
maior do que realmente é.

Se pudesses, mulher, perceber que és taça
em que muitos derramam-se, líquidos
e de quem muitos bebem, hávidos, sedentos
das infusões que só tu és capaz de conter.

Compreendesses tu que sou também eu
liquefeito e que estou o mais quente, a mais 
escaldante de todas as poções que se te expõem
e de que experimentas. E sei, mulher

que isso te assusta, e toda essa
temperatura faz com que t{r}ema
o momento do t{r}oque o teu fino
cristal com que confeccionada tu foste,

mas que a ideia é mesmo 
essa e depois dessa prímeira dor
teu calor e o meu hão de estabi-
lizar-se pois assim são as coisas

e eu sei - te questionas - por quê.
Pois eu digo-te que este o quentor que me
queima, o bafor que me sobra é
pra te derreter e fundirmo-nos-tórna-nos

um doutras águas, também doutras fontes,
cachoeiras e rios de fluidez inteiríssimamente nova:
obras-primas, segundas, terceiras e quintas
que essas quatro paredes vão testemunhar.

Alto lá!,

alto há, porque eu vi, nós subimos os dois
e disseste de coisas que eu não ousarei
repetir sob hipótese alguma, mulher, pois
são coisas que só à tua alma pertecem e há a-

té que tu não ma cedas, não há que fazer
senão dançar sensual e ritualisticamente 
em torno do fogo da tua 
existência sem par.



                                                                                     Por: Cândido Cordeiro