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Lume

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Compreendesses

Se viesses, mulher
se fosses tu capaz de cruzar
a ponte que daí te parece muito
maior do que realmente é.

Se pudesses, mulher, perceber que és taça
em que muitos derramam-se, líquidos
e de quem muitos bebem, hávidos, sedentos
das infusões que só tu és capaz de conter.

Compreendesses tu que sou também eu
liquefeito e que estou o mais quente, a mais 
escaldante de todas as poções que se te expõem
e de que experimentas. E sei, mulher

que isso te assusta, e toda essa
temperatura faz com que t{r}ema
o momento do t{r}oque o teu fino
cristal com que confeccionada tu foste,

mas que a ideia é mesmo 
essa e depois dessa prímeira dor
teu calor e o meu hão de estabi-
lizar-se pois assim são as coisas

e eu sei - te questionas - por quê.
Pois eu digo-te que este o quentor que me
queima, o bafor que me sobra é
pra te derreter e fundirmo-nos-tórna-nos

um doutras águas, também doutras fontes,
cachoeiras e rios de fluidez inteiríssimamente nova:
obras-primas, segundas, terceiras e quintas
que essas quatro paredes vão testemunhar.

Alto lá!,

alto há, porque eu vi, nós subimos os dois
e disseste de coisas que eu não ousarei
repetir sob hipótese alguma, mulher, pois
são coisas que só à tua alma pertecem e há a-

té que tu não ma cedas, não há que fazer
senão dançar sensual e ritualisticamente 
em torno do fogo da tua 
existência sem par.



                                                                                     Por: Cândido Cordeiro

2 comentários:

Lis Motta disse...

O poema é lindo. Vou lê-lo melhor e sempre e depois comento, como antigamente. Mas porque Cândido Cordeiro?

pessanha disse...

poemas intrigantes... não deixe ratos no teu rastro... molha toda a distancia... resfria, em segundos congelados são queimados todos os incensos que acenda o teu desejo.

"Compreendesses" sui-generis