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Lume

segunda-feira, 14 de março de 2011

O corpo está e a alma é.

O corpo está e a alma é.
Alma cabeça, o corpo o pé.
Alma alimento, fonte, vida.
O corpo um receptáculo, um filtro, uma saída.

O esquema todo inspira a tal inquietação:
respiração, fadiga, briga, reconciliação.
Uma coreografia, um diálogo, se há dramaticidade,
concepção de símbolos, à genética de outras verdades.

O corpo veste uma vontade, uma intenção.
A alma é o fogo eterno dessa mesma inclinação.
Aquele é o desenho no papel estático.
e esta é quem lhe torna o estado em animado.

Ele são dentes, lábios
e ela é o sorriso.
Ele são olhos, cilhos, pálpebras, 
ela é o olhar.
Ele são as pernas, 
ela o caminhar.
Ele se faz lágrima, 
ela se faz choro.
Ele é a vela,
ela é o fogo.

O corpo é o campo de batalha,
o batalhão, as armas.
A alma é o rei a quem
a glória da vitória se consagra.

O belo e a beleza.
O elo e a natureza.
O espetáculo e a arte,
o ator e o personagem.

A alma pode, o corpo rende,
o corpo morre, a alma ascende.
Corpórea fosse, a alma entenderia,
almado sendo, o corpo é alegoria.

O corpo é algo,
a alma é tudo.

A alma canta alto e agudo.

O corpo canta largo e obtuso.

O corpo carrega a alma que escorrega.

O corpo corre, a alma ecoa;
o corpo dorme e a alma voa.

O corpo ao norte,
a alma à proa.
O corpo há que ser forte,
a alma há que ser boa.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sou Sim, não Não.

Sou pequeno. Feno que se serve
de alimento às pastagens santas
da Eternidade. 

Sou uma
pequena ampulheta
com asas.

Sou brasa.

Química que esvai-se em várias
faces e sabores. O doce e o amargo
de minh'alma salgam e salivam
boca de qualquer estrela ao Leste.

Sou ponto, círculo, roda, rota 
colisão de sinos. 

Sou pronto, ríspido 
em notas e factíveis ângulos
meta
           giro

outono, inverno.

Crio-me e descreio
o meio, o devaneio todo
que insistiu em vir não sem sinceridade.

Visgo, resma, sobra, sombra 
de intenção à meia luz insinuada.

Fada, foda, armada em dentes reluzentes
ventres de três mil mulheres.

Molha, beija, enrola tua língua à minha
como fiz com tantos, tantas, muitas taras 
de algum outro fosse meu.

Queimo, brando, manso, embora
a fera esteja à solta, danço com tuas esquinas
quatro vezes no entre-espaço de um olhar. Viveu.

Peço, nego, gozo cinco, seis, sete mil vezes
essas vezes que nem  sei
não me pergunte como aconteceu.

Vago, cego, certo, entregue, imberbe
deixo mais que se encarregue 
quem mo atribui. 

Eu sou referência ao outro 
que sou eu também num outro
andar-perspectiva.

Eu sou espermatozóide breve
numa gozada cósmica bem dada
em busca de celeste ovulação.

Sou Sim,
não Não.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As Claves do Verso

A Vida, esse componente único que te foi dado
Ela, donzela mista de metassensações inúmeras
presentear-te-á com vestimentas várias .

As vestes, vezes, vão-te ser impostas
e os investidos nem por sempre
a ti agradarão mas serão
sinceros e amorosos no envolver.

Algumas outras vestes vão-te ser apresentadas 
em vítrines que a Vida dá seu jeito de montar;
e dentre elas poderás-te escolher as que te mais aprouverem.

Ora, serão muitas, 
e de certeza serão belas.
Elas se te exporão flertosas
sedosas, sedutoras,
queridas, caridosas.

Se acaso delas te chamar a atenção
um azul muito claro,
talvez um roxo doce e profundo
ou ainda um tom picante
entre o vermelho e o alaranjado
de uma paixão não sem sublimação,
não sem o estado ensimesmado 
de contemplastificação do Todo,
e decidires, nestas cores, 
tecer-te o manto do Poeta:
é para ti esse poema.
Sê bem-vindo.

Escolhe tuas cores,palavras - os fios que tens,
botões e retalhos - e não te preocupes à priori
com técnica, bom-gosto, estilo aprimorado.
Sê cru, honesto, sanguíneo, veraz.

Verás que que o teu outfit a ti se fará
e terá já em ti as vontades que se há.
Ele te servirá de pomposo uniforme
para adentrares o prisma
da Escola Viva de Poesia Mundo

O Caminho do Poeta, 
decidido à servidão do Belo,
terá charadas, enigmas.
Precisarás de amuletos, códigos e dedos hábeis.

Deves ouvir as vozes dispersas;
favor atentar.

Queres proferir boas novas?
Queres a plumas fazer a cama 
onde se deitará o futuro?

Queres andar os degraus de uma pétala?
Estás pronto a espiralares-te inteiro em virtude do Verso?

Preparaste-te para passares a eternidade 
a contemplar o Horizonte do infindável Sim
do Universo, único verso, Signo Magno, palavra maior?

Deverás resgatar as chaves.
Cada palavra um baú que se abre
e revela uma pista, um enigma e mais um baú
que por sua vez, quando aberto, 
revela outra pista, outro enigma
e um outro baú e as camadas
de pele translúcida e bela
dos Sinais e do Verbo
hão de ser metaorgânicos
e seu o ponto mais dentro há de ser
o seu mais saliente, pela inversão
destilada de imagens de que se vale a Verdade.

Deves desenterrar os tesouros
e em fios de ouro dispô-los 
numa oferenda à Poesia.

Eis o teu Poema. 

domingo, 9 de janeiro de 2011

Dando alguns ouvidos vi que tu eras cá de novo.
Cri que se fariam mil todos os teus portões
porque sem ti seriam livres quantos mais!

                                                                                 Retive
                                                                                        gravitacionais.

Verbos mais rascantes surgiriam dos mesmos sinais.


              :

Luminárias e bastões pendiam meio que tremeluzindo
e dois martelos se encompunham numa cruz em xis.

Cavalgadas, torres, carros, metros de um dourado fosco
o moço e seu cigarro não se davam conta o que se me lhe acontecia.

Árvores e vento cochichavam sua linguagem-tato ao que se assucedia;
poros, pêlos se eriçavam cônscios mas as velhas rugas sem querer se entremetiam.

_...Donde? Quando? Quais serão nossos portais? São quantos?
Pr'onde? E enquanto? Mas pensei que era mais tempo!

Mar e Terra, Céu e Além, o Canto e a Esperança, o Velho e a Lembrança
Os cães não mais farejariam medo. 
Os pães não mais se ofertariam peso.
O verbo em virgindade
readquirir transparência devida.



Promessa feita festa
nesta escolha a folha
cai

Premissa fixa 
que resista à isca de rê em pré guinar
impregnantada está 
Dona Vera Mestra

Conceição de Sofia nascerá em brilho vespertino
maturação, tranquilidade, o Sino, signo sinal do Sol menino.
Beirava o sonho mas solidefez-se em certidão assignada por Vera Lúcia.

Terás mais filhos, elos, ilhas, elas e verás a Ti 
em Mim agora que cresci.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

agradeço a Você Deus pelo mais este magnífico
dia: pelos verdemente serelepes espíritos d'árvores
e um veraz azulado sonho de céu;e por tudo aquilo
que é natural que é infinito que é sim

(eu quem morri hoje vivo outra vez,
e este é o dia em que o sol dá-se à luz; é o dia 
em que nascem vida e amor e asas:e a qual grande
e feliz acontecendo limitavelmente terra)

como faria um sapiente tocante ouvinte vidente
respirante qualquer - elevado do não
que vem de todo o nada - ser meramente humano
duvidar O inimaginável Você?

(ora os ouvidos dos meus ouvidos despertam e
agora os olhos dos meus olhos se abrem)

poema por: E.E. Cummings   http://famouspoetsandpoems.com/poets/e__e__cummings/poems/14210.html
tradução: Conrado Segal

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Morada de Altares (música)

Se tu me quiseres saber com certeza
deves despir-te, deves calar

Se queres de mim conhecer fortaleza
deves abrir-te, deves cantar

Meu corpo é, ainda que frágil,
morada de altares, lugares tão meus!,
e onde quer que a beleza tocar
estarei também eu

Eu tenho o sorriso, um escudo sincero
e sua dureza é impenetrável

Eu tenho uma flecha certeira
austera qual inabalável poesia
de pele suave, macia: a voz


Meu corpo é, ainda que frágil,
morada de altares, lugares tão meus!,
e onde quer que a beleza tocar
estarei também eu

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Diventarci

Ávidos abutres fúnebres marchantes cismam
crimes, cenas, penas folhas sem renascerão
Dançam como num desritmo envolvente
serpenteiam dos nossos dizeres
parece que num desafim sem fim.

Tentam, brotam muitos dos sentires costumeiramente
rompem nossos signos, desenhos desígnios
turvando muito bem os verdadeiros pontos.

Por que será que insistem nessa coisa
tão dorida e tão chorosa
que me faz os olhos não se resistirem
derramar ao verso Benedita Lacrima?

A língua portuguesa
não possui asneira imunda
o suficiente para designar
os cúmulos que vós nos impugnais!

O miráculo da vida existe extenso
no detalhe mais contorno, à mornidão
no acônchego de se fitar o afeto no olhar amigo.

Não há poder nem honra.
Não há o azar e a sombra
não deve ser levada em conta.

Os ombros - equidão sinceramente expressa,
a festa e a floresta em santa comunhão - resposta.
A nossa névoa vai se esvoaçar num hino
quando reverberar a voz do Grande Signo.